Caros todos. Bem Vindos

Caros todos. Bem vindos. Por sermos eternos aprendizes, solicito suas críticas e comentários aos meus escritos. Obrigado.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O CIRCUITO NEURAL DO MEDO



A AMÍDALA
Este artigo é fruto, mais uma vez, da minha curiosidade. A curiosidade é boa. Faz-nos questionar, pesquisar e buscar respostas às nossas indagações. Também nos faz filosofar, - salutar e dignificante exercício ao nosso cérebro.
                   Pois bem, terça feira, dia 16 de agosto, nós, alunos do 2º Termo de Psicologia da Fasu/Garça SP, tivemos nossa primeira aula de Neuroanatomia em laboratório. A aula foi ministrada pela nossa querida professora/mestra Helena – fonte de sapiência e paciência -, que nos respondia, uma a uma, as questões a ela colocadas. Afoitos diante dos encéfalos inertes e prostrados diante de nós, ansiosos ante ao deslumbre vivenciado por nossa primeira aula prática, atropelávamo-na, numa sequência desordenada, com as inúmeras questões que a todo o momento surgiam.  
                   Pela complexidade do tema, a aula cingiu-se as seguintes partes: medula espinhal, bulbo, ponte e cerebelo; este, pela sua semelhança com a carne de frango, foi-lhe dispensado tratamento hilário e irônico. Coisas de acadêmico.   
    
                   Bem, vamos ao tema: Amídala; ou Amígdala.

                   Recentemente, li o livro “Inteligência Emocional”, aqui já mencionado, do escritor e psicólogo da Universidade de Harvard, Daniel Goleman. Nele há a dedicação em um capítulo (pág.311/313), cujo título é: “O Circuito Neural do Medo” onde ele declina que “a amígdala cortical desempenha um papel central no medo”.
                   Curioso, diante daquele inerte objeto de estudo, quis nele localizar alguns centros da memória: talo, hipotálamo e, principalmente, a amígdala.  Não os localizei pelo fato de estarem, naquele momento, sem os devidos extratos.
                   Persistente, lancei mão do profícuo atlas disponível na bancada, aberto e disposto,  antecipadamente, na página pertinente ao tema, por nossa professora. Também não os localizei, de forma exponencial, nas diversas figuras que o ilustravam.
                   Assim, por não possuir uma biblioteca adequada, lanço mão desta imensa enciclopédia virtual chamada Google. Nela achei alguns artigos e figuras os quais aqui os reproduzo.
                   Também, na parte final (3), resumo e reproduzo trechos do livro de Goleman, acima citados.
Façam bom proveito.

Anatomia da memória humana - Uma rápida introdução (1)

    O conhecimento anatômico do sistema límbico teve início com o francês Pierre Paul Broca, que já no século XIX, aventava a possibilidade destas estruturas em formato de "C" possuírem importante papel nas emoções. Em 1937, James Papez, neuroanatomista da Cornell University, sugeriu que um complexo conjunto de conexões específicas entre estruturas do lobo límbico constituía um circuito anatômico para as emoções, muito semelhante aos circuitos neurais para as funções sensitivas e motoras. Como as estruturas corticais eram consideradas importantes na experiência emocional subjetiva, as estruturas subcorticais do sistema límbico eram consideradas mediadoras de suas expressões comportamentais (manifestações). A pesquisa moderna tem sugerido uma função no aprendizado, memória e cognição para o sistema límbico, em especial para o hipocampo. Quem é uma pessoa (suas memórias, sua personalidade única, seus pensamentos) em grande escala, é definido pelas funções das diferentes estruturas que compõem o Sistema Límbico. Essas estruturas são: Córtex Associativo Límbico, Formação Hipocampal e a Amígdala.
    O córtex associativo límbico (limitador do sistema límbico) recebe informação principalmente das áreas sensitivas de terceira ordem e das outras áreas corticais associativas. Então, transmite-a a formação hipocampal (ou simplesmente hipocampo) e à amígdala. A informação recebida pela amígdala e pelo hipocampo não é a mesma. A modalidade de informação sensitiva projetando-se à amígdala é preservada. Isto permite à amígdala preparar o corpo para respostas rápidas, ligando estímulos particulares, como por exemplo, ver um objeto, com emoções particulares. Por outro lado, o hipocampo recebe informação sensitiva integrada de múltiplas modalidades sensitivas. Essa informação integrada parece refletir aspectos mais complexos do ambiente, como as relações espaciais. Quando alguém vê uma cobra, pode sentir-se ameaçado e com medo. As vias visuais transmitem a informação a respeito da cobra à amígdala que organiza sua resposta, tanto no aspecto das emoções que sente, como no comportamento evidenciado a esse perigo potencial. Já o hipocampo é importante no aprendizado e na memorização do complexo cenário do meio ambiente ou o contexto no qual a cobra foi vista.

O Hipocampo
    Um dos casos mais impressionantes da comprovação da importância do hipocampo na consolidação das memórias é o de H. M., que para debelar os sintomas da epilepsia teve o hipocampo removido nos dois hemisférios cerebrais. Após a cirurgia, H. M. perdeu a capacidade de consolidar a memória de curto prazo em memória de longo prazo, mas reteve a memória dos fatos que tinham ocorrido antes da lesão.
    Devido ao córtex entorrinal (região adjacente ao hipocampo) possuir projeções muito espalhadas às áreas associativas corticais, a formação hipocampal pode influenciar diversas regiões dos lobos temporal, parietal e frontal, influenciando grandemente os processos de memorização. Algumas conexões sinápticas da formação hipocampal podem ser alteradas pela atividade neuronal. Ainda não se entende qual informação é modificada e como esta plasticidade ajuda o hipocampo a consolidar a memória de curto prazo em memória de longo prazo.

    A amígdala é uma estrutura chave nas experiências emocionais dos seres humanos. A quais estímulos respondem, como são organizadas suas respostas externas a estes estímulos, como também as respostas internas dos órgãos do organismo, são dependentes dessa estrutura subcortical. Volte-se ao exemplo da visão da cobra, citado anteriormente. O reflexo dessa visão ameaçadora no corpo das pessoas é coordenado pela amígdala através de complexas vias de conexão polissinápticas com o sistema endócrino (glândulas), autônomo (vísceras) e motor somático. Os estímulos sensoriais processados pelo tálamo sensorial (exemplo da visão da cobra) seguem dois caminhos em direção à amígdala: a via principal, através do córtex e a via secundária, diretamente do tálamo à amígdala. A via principal, nos mamíferos e principalmente nos seres humanos, é responsável pelo processamento mais sofisticado desses estímulos, no entanto este processamento tem um custo: tempo. No exemplo da cobra, poderia significar sobrevivência ou morte. Assim, para resolver este dilema, a natureza manteve a via secundária, mais tosca, porém mais rápida. A via talâmica estimula a amígdala a responder rapidamente, através de um conjunto de respostas emocionais primárias enquanto a informação vinda pela via cortical, mais lenta, porém mais completa, assumirá o controle em um segundo momento, quando a reação a situações ameaçadoras já tiver se desencadeado.

Após lesão da amígdala em primatas não humanos, objetos ameaçadores não provocam medo e não se distingue mais comida de não alimentos. Inversamente, a estimulação elétrica da amígdala em carnívoros gera reações viscerais e defensivas.
A amígdala projeta-se diretamente ao alocórtex da formação hipocampal, o qual é importante no aprendizado emocional dos estímulos complexos ou no contexto onde estímulos emocionalmente fortes são experimentados.


A AMÍDALA EXTENDIDA (2)
O corpo amigdaloide, ou amígdala, se localiza no interior da metade anterior do unco do giro parahipocampal, imediatamente anterior à cabeça do hipocampo que ocupa a sua metade posterior e, portanto, constitui a parede anterior do corno temporal.  Superiormente, a amígdala se continua com a base do globo pálido, de forma que em um corte coronal o núcleo lenticular e a amígdala compõem a conformação de um "8" ou de uma ampulheta.
 O corpo amigdaloide é composto pelas suas diferentes partes basolateral, olfatória e centromedial. A parte basolateral é muito semelhante ao córtex, recebe as suas aferências do córtex cerebral e de núcleos talâmicos polimodais e, como o córtex, se projeta para o striatum ventral e para o tálamo. A pequena parte olfatória, adjacente ao córtex olfatório temporal, daí recebe as suas aferências e se projeta principalmente para a parte centromedial da própria amígdala e para o hipotálamo. A parte centromedial, por sua vez, recebe aferências da formação hipocampal, da ínsula, do córtex órbitofrontal e de núcleos talâmicos da linha média (mais particularmente relacionados com informação interoceptiva), e se projeta sobre o hipotálamo e tronco encefálico.
Johnston, em 1923,36 demonstrou que a porção centromedial da amígdala se estende posteriormente por meio de colunas de células neuronais dispostas ao longo de estria terminal até o núcleo da estria terminal (bed nucleus of stria terminalis), que se localiza na porção posterior do striatum e pallidum ventrais, em topografia imediatamente inferior à cabeça do núcleo caudado. Em complementação a essa extensão dorsal, de Olmos, em 1972,24-25 demonstrou existir também uma extensão ou componente ventral da porção centromedial da amígdala, disposta sob o núcleo lentiforme e posteriormente ao sistema estriado-palidal ventral, e que também termina no núcleo da estria terminal. Dada a disposição semicircular da estria terminal, disposta entre o núcleo caudado e o tálamo, e a disposição ântero-basal do componente ventral, a amígdala centromedial passou a ser definida como um verdadeiro continuum em forma de um anel disposto em torno da cápsula interna e do tálamo, e denominada de amígdala estendida.
A amígdala estendida é, portanto, formada pela amígdala centromedial, pelo núcleo da estria terminal e pelos corredores celulares dorsal (componente supracapsula, estria terminal) e ventral (componente sublentiforme) que os unem. Assim como o striatum ventral, a amígdala estendida recebe aferências principalmente das áreas não-isocorticais do grande lobo límbico, incluindo a amígdala baso-lateral, e se projeta basicamente sobre o hipotálamo.

 Quanto ao papel relevante da amígdala em relação às emoções e ao comportamento, é importante ressaltar que a sua parte centromedial não se projeta para o striatum, e sim, para o hipotálamo e o tronco encefálico. Através dessas aferências, toda a amígdala estendida exerce as suas influências sobre as áreas neurais que geram os componentes autonômicos, endócrinos e somatomotores das experiências emocionais, que regulam as atividades básicas de beber, comer e pertinentes ao comportamento sexual.

A íntima relação topográfica e funcional do corpo amigdalóide com o hipocampo9,16,21,37 vincula o processo de armazenamento de memórias com os seus respectivos coloridos emocionais, e as suas relações com o córtex cerebral permitem a atuação em particular do córtex pré-frontal sobre o complexo amigdalóide. Ao coordenar as diferentes informações sensitivas e sensoriais projetadas pelos tálamos sobre as diferentes áreas neocorticais, o córtex pré-frontal constitui o principal centro de organização e de planejamento de ações, inclusive emocionais. As áreas corticais pré-frontais, portanto, orquestram as reações emocionais, exercendo uma intensa atividade modulatória sobre a amígdala.
Paralelamente às conhecidas projeções das aferências sensitivas e sensoriais do tálamo sobre o córtex - que então viabilizam a identificação do estímulo em questão e que orquestram uma reação elaborada, "pensada", como resposta -, LeDoux et al.38-40 descreveram que o tálamo também projeta as aferências sensoriais sobre a amígdala que, então, atua diretamente sobre o tronco encefálico. Esta via mais direta acarreta, portanto, respostas inespecíficas e mais rápidas (com intensos componentes autonômicos), prévias às respostas processadas pelo córtex cerebral, o que explica, por exemplo, reações abruptas de medo frente a determinadas situações. Em relação a esses embricamentos funcionais, é ainda interessante a observação de LeDoux et al. de que, dado o fato da amígdala apresentar um amadurecimento funcional prévio em relação ao hipocampo e ao resto do córtex cerebral, o armazenamento das primeiras lembranças com carga emocional pode ocorrer de maneira ainda pouco elaborada e se tornar um elemento de memória não apropriadamente codificado e que, eventualmente, pode vir a ser posteriormente mobilizado de forma também inapropriada.

O papel da amígdala: um centro no cérebro límbico

Goleman afirma que Joseph LeDoux, neurocientista do Centro de Ciência Neural da Universidade de Nova Iorque, descobriu o papel-chave da amígdala no cérebro emocional.
Nos seres humanos, a amígdala vem do grego e significa amêndoa, é um feixe em forma de amêndoa, de estruturas interligadas situado acima do tronco cerebral, próximo à parte inferior do anel límbico. Há duas amígdalas, uma de cada lado do cérebro.
Para Goleman as explosões emocionais são sequestros neurais. A amígdala, um centro no sistema límbico, detecta uma emergência e recruta o resto do cérebro para o seu plano de emergência. E o nosso cérebro pensante, o neocórtex, ainda não percebeu o que está acontecendo.
Esses sequestros não são específicos de incidentes graves e horrendos que levam a crimes brutais, ocorrem também conosco com muita frequência quando perdemos o “controle” e explodimos com alguém – com parentes, colegas de trabalho, no trânsito... – e depois ficamos até perplexos com as nossas próprias atitudes irracionais.
A remoção cirúrgica da amígdala para controlar sérios ataques em um rapaz provocou-lhe um completo desinteresse pelas pessoas, um alheamento, isolando-se sem nenhum contato humano. Embora conversasse normalmente, não mais reconhecia ninguém, nem mesmo a mãe, e permanecia impassível diante da angústia deles com a sua indiferença. Sem a amígdala perdeu a identificação de sentimento, visto que ela atua como um depósito da memória emocional, e, portanto do próprio significado; a vida sem amígdala é uma vida privada de significados emocionais.
Os sinais que vêm dos sentidos permitem que a amígdala faça uma varredura de toda experiência, em busca de problemas. Isso a põe num poderoso posto na vida mental, alguma coisa semelhante a uma sentinela psicológica, desafiando cada situação, cada percepção, com apenas um tipo de pergunta em mente, a mais primitiva: É alguma coisa que odeio? Isso me fere? Alguma coisa que temo? Se for esse o caso – um Sim – a amígdala reage instantaneamente, como um fio de armadilha neural, telegrafando uma mensagem de crise para todas as partes do cérebro
“A memória emocional pode ser um repositório de impressões emocionais e lembranças que jamais conhecemos em plena consciência.”
A pesquisa de LeDoux revela que a arquitetura do cérebro oferece à amígdala uma posição privilegiada de sentinela emocional. Os sinais sensoriais do olho ou do ouvido viajam para o tálamo, e depois – por uma única sinapse – para amígdala; um segundo sinal do tálamo é encaminhado para o neocórtex – nosso cérebro pensante. Fica explícito que a amígdala responde antes do neocórtex ser informado.
Para Goleman, a pesquisa de LeDoux é revolucionária para a compreensão da vida emocional por ser a primeira a estabelecer os caminhos neurais de sentimentos em torno do neocórtex. Os sentimentos em linha direta à amígdala são os mais primitivos, grosseiros e poderosos, e acaba por explicar o poder da emoção para esmagar a racionalidade. Enquanto a amígdala nos lança à ação, o neocórtex (racional) ainda está pensando qual o plano mais adequado!
A ação do neocórtex: a amígdala propõe; o lobo pré-frontal dispõe.
Enquanto a amígdala prepara uma reação ansiosa e impulsiva, e nem sempre a mais adequada, outra parte do cérebro emocional possibilita uma resposta mais reflexiva e mesmo corretiva.
A chave do amortecedor cerebral das ondas repentinas da amígdala parece localizar-se na outra ponta de um circuito principal do neocórtex, nos lobos pré-frontais, logo atrás da testa. O córtex pré-frontal parece agir quando alguém está assustado ou zangado, mas sufoca ou controla o sentimento para tratar com mais eficácia da situação imediata... “Essa região neocortical do cérebro traz uma resposta mais analítica ou adequada aos nossos impulsos emocionais, modulando a amígdala e outras áreas límbicas.”
Ocorre que a resposta neocortical, embora mais criteriosa e ponderada, é mais lenta em tempo cerebral quando comparada à resposta emocional direcionada pela amígdala.
A tristeza fundamentada em uma perda ou a alegria decorrente de uma vitória, toda essa reflexão é o neocórtex agindo.
Ainda assim a amígdala não deve ir para o banco dos réus, porque exerce – entre outras – a importante missão de um disparador de emergência.
A relação entre esses circuitos nem sempre é pacífica, como diz Goleman os circuitos que vão do cérebro límbico aos lobos pré-frontais significam que os sinais de forte emoção – ansiedade, ira e afins – podem criar estática neural, sabotando a capacidade do lobo pré-frontal de manter a memória funcional e é por isso que, quando estamos emocionalmente perturbados dizemos: “Simplesmente não consigo pensar direito” – e porque a contínua perturbação emocional cria deficiências nas aptidões intelectuais pode mutilar a capacidade de aprendizado.
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A AMÍDALA (3)

Para Goleman, cada emoção leva consigo uma disposição distinta para a ação rumo à direção que deu certo no lidar com os recorrentes desafios da vida humana, ficando gravadas em nosso sistema nervoso como tendências inatas e automáticas do coração humano.
Ele descreve, passo a passo, o acionamento da amígdala, ante um estímulo externo.
O cérebro em repouso ouve um barulho. Isso é suficiente para que o circuito neural do medo e para o sistema de alarme da amígdala. O primeiro circuito cerebral envolvido, capta o barulho como ondas físicas desorganizadas e as transforma na linguagem cerebral que lhe dirá que fique atento. Esse circuito parte do ouvido para o tronco cerebral e daí para o tálamo. E, nesse ponto, há duas ramificações: um menor feixe de projeções se dirige à amígdala e ao vizinho hipotálamo; a outra ramificação, que perfaz um caminho maior, conduz ao córtex auditivo no lobo temporal, onde os sons são submetidos a uma ordenação e compreendidos pelo que representam.
O hipocampo, importante local para o armazenamento da memória, rapidamente compara esse som com outros que você já tenha ouvido para verificar se é familiar. Ao mesmo tempo, o córtex auditivo está fazendo uma análise mais sofisticada do som para entender de onde ele vem. Se dessa análise mais acurada não advier nenhuma resposta satisfatória, a amígdala dispara o alarme, na área central ativa o hipotálamo, o tronco cerebral e o sistema nervosos autônomo.
Ele diz que a soberba arquitetura da amígdala, que faz dela um sistema essencial de alarme para o cérebro,  se evidencia nesse momento de ansiedade apreensiva e subliminar. O diversos feixes de neurônios da amígdala, têm, cada um, um conjunto diferente de projeções com receptores afinados para diferentes neurotransmissores.
As diferentes partes das amígdalas recebem informações diferenciadas. Para o seu núcleo central são enviadas projeções do tálamo e dos córtices auditivos e visuais. Os cheiros, via bulbo olfativo, seguem para a área corticomedial da amígdala e os gostos e mensagens vindos da víscera, para área central. Esses sinais, mantêm a amígdala como sentinela, que escrutina qualquer experiência sensória.
Da amígdala estendem-se projeções para as partes importantes do cérebro. Das áreas centrais e mediais, um ramo segue para áreas do hipotálamo que secretam uma substância de resposta a emergências, que é o hormônio que libera corticropina (CR11), que mobiliza a reação lutar-fugir através de uma cascata de outros hormônios. A área basal da amígdala lança ramificações para o coipus striatum, ligando-se ao sistema de movimento do cérebro. E, via núcleo central, a amígdala envia sinais, através da medula, para o sistema nervoso autônomo, ativando uma enorme quantidade de respostas a pontos distantes no sistema cardiovascular, nos músculos e nas entranhas.
Da área basolateral partem ramos para o córtex cingulado e, das fibras conhecidas como “cinzento central”, células que regulam os grandes músculos do esqueleto. São essas células que fazem com que um cachorro rosne e com que um gato arqueie o dorso à guisa de ameaça a invasores de seus territórios. Nos seres humanos, esse mesmo circuito causa a compressão das cordas vocais que. então, emitem uma voz estridente de pavor.
Da amígdala também parte outro caminho que conduz ao locus ceruleus. localizado no tronco cerebral. Aqui é fabricada a norepinefrina (também chamada “noradrenalina”), que é espalhada pelo cérebro. A norepinefrina causa aumennto da reatividade das áreas do cérebro que a recebem, o que determina maior sensibilidade dos circuitos sensórios. A norepinefrina impregna o córtex, tronco cerebral, o próprio sistema límbico - em suma, deixa o cérebro ‘tinindo’.A partir desse momento, qualquer barulhinho é capaz de fazer com  seu corpo trema de medo. A maior parte desse tipo de alteração acontece de forma inconsciente e, de tal modo, que você não saiba que está sentindo medo.
À medida, porém, que você vai percebendo que está com medo — ou seja, quando  a ansiedade inconsciente se torna consciente — a amígdala comanda a ordem para que haja uma ampla reação. Envia sinais às células do tronco cerebral para que aponham uma expressão de medo em seu rosto, para que fique nervoso e assustadiço, para que paralisem os movimentos que os músculos estejam executando naquele momento, para que o seu ritmo cardíaco se acelere, elevem a pressão sanguínea e reduzam a respiração. Para ouvir mais claramente o barulho que lhe causou o medo, você percebe que passou a conter a respiração aos primeiros sinais do sentimento de medo. Isso é apenas uma parte de uma série de alterações meticulosamente coordenadas que a amígdala e áreas relacionadas promovem para assumirem, em situações crise, o controle do cérebro.
Nesse meio-tempo, a amígdala, junto com o hipocampo a ela interligado, ordena às células que enviem neurotransmissores-chave que, por exemplo, irão disparar a dopamina que fixará a sua atenção na origem do medo — os barulhos estranhos — e colocará seus músculos de prontidão para reagir de acordo. Ao mesmo  tempo, a amígdala envia sinais para as áreas sensórias relativas à visão e à atenção, para se assegurar de que os olhos estão atentos para o que seja relevante naquelas circunstâncias. Simultaneamente, os sistemas da memória cortical são rearranjados de forma que o conhecimento e as lembranças mais relevantes para aquela situação de emergência emocional sejam rapidamente trazidos para o presente e tenham precedência sobre qualquer ideia menos importante que ocorra.
Tão logo esses sinais são recebidos, você fica inteiramente possuído pelo medo: percebe o característico aperto nas entranhas, o coração acelerado, a contração da musculatura do pescoço e dos ombros, o tremor nos membros; o corpo se imobiliza, você fica atento a outros sons e, em sua cabeça, você visualiza todos os perigos possíveis e como vai reagir a cada um deles. Toda essa sequencia — da surpresa para a incerteza, da incerteza para a apreensão, da apreensão para o medo — ocorre em torno de um segundo.  
Uma visão da natureza humana que ignora o poder das emoções é lamentavelmente míope. O próprio nome Homo sapiens, a espécie pensante, é enganosa à luz da nova apreciação e opinião do lugar das emoções em nossas vidas que nos oferece hoje a ciência. ...quando se trata de modelar nossas decisões e ações, o sentimento conta exatamente o mesmo - muitas vezes mais - que o pensamento. Fomos longe demais na enfatização do valor e importância do puramente racional - do que mede o QI (Quociente de Inteligência). Para melhor e o pior, a inteligência não dá em nada, quando as emoções dominam.
Emoções são impulsos direcionados para a ação. A própria raiz da palavra emoção é movere, - mover - em latim, mais o prefixo *e-*, para denotar - afastar-se -.
Tipo
Característica
Reação
IRA
Fúria, revolta, ressentimento, raiva, exasperação, indignação, vexame, animosidade, aborrecimento, irritabilidade, hostilidade e, talvez no extremo, ódio e violência patológicos
O sangue flui para as mãos, fica mais fácil pegar uma arma ou golpear um inimigo; os batimentos cardíacos aceleram-se e uma onda de hormônios como a adrenalina gera uma pulsação, energia suficientemente forte para uma ação vigorosa.
TRISTEZA
Sofrimento, mágoa, desânimo, desalento, melancolia, autopiedade, solidão, desamparo, perda de prazer, desespero e, quando patológica, severa depressão.
Confusão e falta de concentração mental, lapsos de memória, dificuldades alimentares e com o sono, apatia.
MEDO
Ansiedade, apreensão, nervosismo, preocupação, consternação, cautela, escrúpulo, inquietação, pavor, susto, terror e, psicopatológico: fobia e pânico.
O sangue vai para os músculos do esqueleto, como o das pernas, tornando mais fácil fugir, o corpo imobiliza-se para fugir ou lutar.
PRAZER
Felicidade, alegria, alívio, contentamento, deleite, diversão, orgulho, prazer sensual, emoção, arrebatamento, gratificação, satisfação e bom humor, disposição e entusiasmo, euforia, êxtase e, no extremo, mania.
Maior atividade no centro cerebral que inibe sentimentos negativos e favorece o aumento de energia existente e silencia os que geram pensamentos de preocupação; a tranquilidade permite o corpo refazer-se de emoções perturbadoras, repouso geral.
AMOR
Aceitação, amizade, confiança, afinidade, dedicação, adoração, paixão.

O oposto fisiológico  do medo que mobiliza para “lutar-ou-fugir”. Há reações que percorre todo o corpo, provocando um estado geral  de calma e satisfação, facilitando a cooperação. 
O quadro acima apenas reflete parte de nossas emoções. A intenção é sugerir que as emoções desencadeiam uma série de reações em nosso organismo, ficando absolutamente claro que é o estado psíquico, reflexo de nosso amadurecimento emocional e cognitivo, o fato gerador, a causa de tais reações, e não ao contrário como sugerem alguns cientistas. O fato de alguém sofrer uma lesão em determinada área de cérebro e em consequência apresentar sintomas comportamentais diferentes dos que originalmente aconteciam, não justifica que o cérebro é o grande comandante de nossas vidas. O cérebro, mesmo lesionado, encontra-se sob o poder da Mente que detém o poder da vontade, sede de todo nosso psiquismo.
Goleman critica a Teoria de Inteligências Múltiplas. Para ele as teorizações de Gardner (Inteligências Múltiplas) contêm uma dimensão de inteligência pessoal que é amplamente apontada, mas pouco explorada: o papel das emoções.
Talvez isso se dê porque, seu trabalho é fortemente informado por um modelo mental de ciência cognitiva. Assim, sua visão dessas inteligências enfatiza a percepção – a compreensão de si e de outros nas motivações, nos hábitos de trabalho e no uso da intuição na própria vida e na relação com os outros. Mas, como acontece com campo cinestésico, onde o brilho físico se manifesta não verbalmente, o campo das emoções também se estende além do alcance da linguagem e da cognição.
Essa concentração, talvez não intencional, deixa inexplorado o rico mar de emoções que toma a vida interior e os relacionamentos tão complexos, tão absorventes, e muitas vezes tão desconcertantes.
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REFERÊNCIAS:

1)Anatomia da memória  in:

(2) Ribas, G.C.  As bases neuroanatômicas do comportamento, Rev. Bras. Psiquiatria v.29 n.1 São Paulo mar. 2007 Epub 27-Nov-2006.

(3) GOLEMAN, D.“O Circuito Neural do Medo” in “Inteligência Emocional” (p. 311/313). Objetiva, RJ, 2.007.                

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

FILME: LARANJA MECÂNICA



• Direção:
Stanley Kubrick
• Elenco Principal:
Malcolm McDowell
Patrick Magee
Michael Bates
• Sinopse: 
O anti-herói do filme é Alex DeLarge, um jovem líder de uma gangue de delinqüentes, amantes de leite drogado e música clássica. Tem por diversão bater, estuprar, matar... Enfim, cometer qualquer brutalidade que tenha vontade, não se importando com as consequências.


Quando Laranja Mecânica se inicia, somos apresentados a essa palavra que, durante toda a duração do filme, será trabalhada. Não, não digo somente de forma física, como as primeiras meia hora de filme apresentam, e sim o violento tom psicológico no qual o filme é conduzido magistralmente por Stanley Kubrick (Dr. Fantástico2001: Uma Odisséia no Espaço) até o seu final. Tudo de modo cínico, hipócrita, denunciando todo o egoísmo em uma visionária concepção de sociedade. Algo que, assustadoramente, em pleno século 21, continua atual, senão pior do que nos é apresentado em termos de violência no mundo.
O anti-herói do filme é Alex DeLarge, um jovem líder de uma gangue de delinqüentes, amantes de leite drogado e música clássica, que tem por diversão bater, estuprar, matar... Enfim, cometer qualquer brutalidade que tenha vontade, não se importando com as leis ou o senso humanitário, somente pensando na própria diversão. Quando finalmente é pego pela polícia, sofre um tratamento duro de reabilitação. Um novo método, cruel, que faz com que a pessoa fique totalmente indefesa com relação a violência do mundo. E, mais uma vez, Kubrick brilha de maneira fascinante comparando os atos de Alex antes de sua internação com os da sociedade em resposta ao seu passado na segunda metade do filme. Você realmente se questiona sobre qual tipo de atitude é pior, mais fria, desumana. Não digo isso somente nas pessoas da rua, os antigos amigos de Alex, e sim com toda a falta de escrúpulo em volta dos interesses políticos sobre a situação. Uma ousadia incrível de Kubrick, perfeitamente retratada, questionar o sistema de modo tão duro.
Quem interpreta o problemático Alex é Malcolm McDowell, simplesmente perfeito no papel. O seu olhar, sua frieza, chega realmente a intimidar. Pense na cena de abertura do filme, aquele olhar intimidador, característico de alguns filmes do Kubrick, acho que nunca se encaixou tão bem em um personagem seu antes (e nem depois). A sua importância dentro do contexto é tanta que li, certa vez, que Kubrick chegou a cogitar a possibilidade simplesmente não rodar Laranja Mecânica caso Malcolm não aceitasse o papel. É curioso como Kubrick tem total controle sobre seus atores. O modo como eles falam, o jeito cínico, tudo é captado mesmo que de forma inconsciente pelas pessoas que estão assistindo. O controle se reforça por uma curiosidade muito peculiar: Malcolm tem fobia a cobras, e advinha o animal de estimação que Kubrick deu a Alex?
Kubrick tem também o total domínio sobre as técnicas de filmagem. Misturando diversas dessas técnicas, ele cria o ambiente que quer da maneira que quer. Mesmo que possa parecer estranho (seus cenários tem cores sempre extravagantes, poucos objetos de cena, chão brilhando, luzes estourando nas paredes e tetos), tudo tem uma perfeita sintonia com o mundo em questão. Aliás, essa característica não se diz somente à Laranja Mecânica, e sim a todos os filmes de Kubrick (até mesmo Spartacus!), mas citei para reforçar que nada foi ao acaso, tudo está lá propositalmente. Certas vezes temos o tempo do filme alterado, passando mais rápido ou devagar, tudo ao som da mais bela música clássica. Aliás, Kubrick também brinca com temas clássicos, como nunca vistos antes. Além dos clássicos já supra citados, temos canções inocentes como ‘Singing in the Rain’ interpretadas de um modo bem diferente.
O engraçado é que Laranja Mecânica custou apenas 2 milhões de dólares e, sem sombra de dúvidas, é um grande clássico. O que prova que a qualidade não está nos orçamentos milionários de Hollywood, e sim na competência de seus realizadores. É tão óbvia essa afirmação que me pergunto como filmes horrorosos que custaram dez vezes mais conseguiram ser aprovados por seus produtores. É ao mesmo tempo divertido e cruel. Fascinante e perturbador. Uma reflexão e medo. Ousado e intrigante. É Kubrick em sua melhor forma.

Copiado de :