O segundo,
não o tempo é implacável.
Tolera-se o minuto.
A hora suporta-se.
Admite-se o dia, o mês, o ano, a vida,
A possível eternidade.
Mas o segundo é implacável.
Sempre vigiando e correndo e vigiando.
De mim não se condói, não para, não perdoa.
Avisa talvez que a morte foi adiada
Ou apressada
Por quantos segundos?
não o tempo é implacável.
Tolera-se o minuto.
A hora suporta-se.
Admite-se o dia, o mês, o ano, a vida,
A possível eternidade.
Mas o segundo é implacável.
Sempre vigiando e correndo e vigiando.
De mim não se condói, não para, não perdoa.
Avisa talvez que a morte foi adiada
Ou apressada
Por quantos segundos?
As vivências do tempo e
do espaço constituem-se como dimensões fundamentais de todas as experiências
humanas. O ser, de modo geral, só é possível nas dimensões reais e objetivas do
espaço e tempo. Portanto, o tempo e espaço são ambos, condicionantes
fundamentais da experiência humana.
Para
o físico Newton(1643-1727) e o filósofo Leibniz (1646-1716) o espaço e tempo
produzem-se exclusivamente fora do homem e tem uma realidade objetiva plena.
São realidades independentes do ser humano.
Em
contraposição a essa noção, Kant (1724-1804) defendia que o espaço e o tempo
são dimensões básicas, que possibilitam todo ser humano como ser cognoscente.
Segundo ele, não se pode conhecer realmente nada que exista fora do tempo e do
espaço. Para este filósofo, entidades que pairam fora do tempo e do espaço,
como Deus, a liberdade ou a alma humana, não são passíveis de ser propriamente
conhecidas. Pode-se pensar sobre elas, mas nunca conhecê-las objetivamente.
Nesse
sentido Kant acrescenta, à visão de Newton, a dimensão subjetiva do tempo e
espaço, elevando-as ao status de “categorias do conhecimento humano”. Apesar
disso, para ele, o tempo e o espaço são “entidades potenciais ou ocas”, isto é,
embora sejam absolutamente necessárias ao conhecimento e se encontrem presentes
no interior do homem, só adquirem plena realidade quando preenchidas por
objetos do conhecimento.
Para
Bergson (1934-1984), uma das principais
dificuldades para compreender o que o tempo realmente é, origina-se na
história da filosofia, quando o espaço e o tempo foram considerados como sendo
do mesmo gênero. Estudou-se o espaço, determinou-se sua natureza e a sua
função, depois se transportaram para o tempo as conclusões obtidas. Para passar
de um a outro, foi suficiente mudar uma palavra: “justaposição” por “sucessão”.
Segundo esse filósofo, o problema é que os pensadores sempre se referiam à
duração como uma extensão: “Quando evocamos o tempo, é o espaço que responde ao
chamado”.
Ao tentar estudar o movimento, o fluir da vida
e das coisas, a inteligência se concentrou em uma série de posições fixas,
sucessivas. Bergsom propõe que, para captar o que realmente o tempo é, o que
significa a duração, deve-se abandonar tal atitude. Diz ele:
“Abandonemos
esta representação intelectual do movimento que o desenha como uma série de
posições. Vamos direto a ele, consideremo-lo sem conceitos interpostos: nós o
vemos simples e uno. A essência da duração está em fluir, nunca veremos algo
que “dure” ao nos atermos ao estável acoplado ao estável. O tempo, a duração, o
movimento é o contrario, é o fluxo, é a continuidade de transição, a mudança
ela mesma. Essa mudança é indivisível”.
Os filósofos existencialistas também deram
grande ênfase à questão da temporalidade. Para eles, o tempo não é simplesmente
um objeto real, exterior ao homem (como queria Newton) nem uma entidade oca,
como postulara Kant, mas um dos elementos constituintes do ser.
Para Heidegger (1889-1976), o homem deve ser
compreendido pelas condições básicas do estar/ser no mundo”, “estar/ser com
outros” e, fundamentalmente, como “ser para a morte”. Assim, a morte e, por
consequência, a temporalidade definem a constituição humana. Para o filósofo
alemão, analisar o tempo é observar o homem em sua maior contradição: a tensão
permanente entre permanência e transitoriedade, poder e impotência, vida e
morte. E, quiçá, porque não acrescentar, tabula rasa e mesa redonda.
Finalmente cabe ressaltar que a dimensão
temporal da experiência humana relaciona-se com os chamados ritmos biológicos.
Para Dalgalarrondo (2008), os de maior importância para a psicologia são: o
ritmo circadiano (dura cerca de 24 horas, alternando-se o dia e a noite), os
ritmos mensais relacionados principalmente ao ciclo menstrual (cerca de 28
dias), as variações sazonais (as quatro estações do ano) e as grandes fases da
vida (gestação, infância adolescência, período adulto e velhice), Muitos desses
ritmos biológicos associam-se tanto a flutuações hormonais e bioquímicas como a
símbolos culturais (datas festivas, representações culturais das fases da vida
etc.), contribuindo com a determinação do estado mental do indivíduo.
Portanto, é inquestionável que a vida psíquica,
além de ocorrer e se configurar no tempo, tem ela mesma um aspecto
especificamente temporal e, por isso, é legítima a distinção do tempo em: Tempo
subjetivo (interior pessoal); e, Tempo
objetivo (exterior, cronológico, mensurável).
Muitas vezes, ocorre certo descompasso entre o
tempo subjetivo e o cronológico. Tal discrepância pode ser tanto um fenômeno
primário, uma legítima alteração da consciência do tempo, como um fenômeno
secundário, decorrente de alterações da consciência, memória, do pensamento,
etc.
REFERÊNCIAS:
ANDRADE, Carlos Drumond de, - “O segundo”.
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e
Semiologia dos Transtornos Mentais. 2ª edição, Artmed, São Paulo, 2008.