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terça-feira, 4 de junho de 2013

OUVINDO VOZES



É certo que aguardo com muita expectativa as aulas que temos nas quartas-feiras. É a ministrada pelo professor Belon cuja disciplina é Psicopatologia. Um primor.  Ouvi-lo a discorrer sobre os meandros da mente é interessantíssimo. Existem muitos volteios, vias sinuosas, emaranhados e porque não, muita complexidade para se entender, um pouco, do que realmente é o agir, a atividade motora, após um intrincado comando do pensamento. É apaixonante; e, ao mesmo tempo, intrigante.

Nas últimas aulas, temos ouvido falar em sensopercepção, delírios, alucinações, ilusões e outras alterações que o pensamento nos prega, quando a eles estamos suscetíveis. São as chamadas doenças sindrômicas, objeto de nossos estudos.

Segundo Balone (2008) O fenômeno de perceber uma voz que não existe (percepção de objeto inexistente) é a Alucinação propriamente dita e, interpretá-la como sendo a voz do demônio, de Deus, dos espíritos mortos ou uma audição telepática já faz parte do DELÍRIO. Este, frequentemente, acompanha a Alucinação. Ouvir vozes faz parte da sensopercepção e atribuir a elas algum significado faz parte do pensamento e seus, distúrbios.

Algumas vezes as vozes alucinadas podem determinar ordens ao paciente, o qual as obedece, mesmo contra sua vontade. Diante desta situação, de obediência compulsória às ordens ditadas por vozes alucinadas, é chamado de automatismo mental.  Esta situação oferece alguma periculosidade, já que, quase sempre, as ordens proferidas são eticamente condenáveis ou socialmente desaconselháveis.

Normalmente, a Alucinação auditiva é recebida pelo paciente com muita ansiedade e contrariedade, pois, na maioria das vezes, o conteúdo de tais vozes é desabonador, acusatório, infame e caluniador. Quando elas ditam antecipadamente as atitudes do paciente falamos em SONORIZAÇÃO DO PENSAMENTO, como se ele pensasse em voz alta ou como se alguma voz estivesse permanentemente comentando todos seus atos: “lá vai ele lavar as mãos", "lá vai ele ligar a televisão" e assim por diante.

Como parte de nossa atividade curricular de Observação e Registro, faço-a observando um psiquiatra, nas dependências do fórum da comarca de Marília, onde ocorrem as perícias forenses. Entre elas, exames criminológicos, dependência toxicológica, interdição, exames psiquiátricos, entre outros.

No mês de abril de 2.013, procedia ele o exame psiquiátrico de uma interditada, para fins de curatela, requerido por sua irmã. As duas estavam presentes.
     É praxe, quando a pessoa examinada não tem o completo discernimento de seus atos, a pergunta a ela dirigida ser respondida por quem a acompanha.  No caso, a irmã respondia a todas já que a interditada apresentava dificuldades de aprendizado, idade mental inferior à sua biológica e visível retardo mental leve (CID 10 – F70). Queixou-se que a interditada era nervosa, de difícil trato, que não tinha paciência com as suas filhas, de comportamento irascível e etc.
A interditada, o tempo todo, sorria e mostrava extremo carinho pelo sobrinho de tenra idade que estava no colo da mãe, sua irmã. Seu relacionamento social, ali, era satisfatório.
Quando o psiquiatra perguntou-lhe se via coisas e ouvia vozes, a irmã, prontamente, respondeu que não. Ela, sempre sorrindo,contrariando a irmã, respondeu: 

- “Coisas eu não vejo; mas, vozes, eu ouço. Sempre.”.

O psiquiatra perguntou-lhe que voz ouvia. Ela respondeu que era uma voz meiga e muito suave.

Ele perguntou-lhe:

-  “De quem você acha que é essa voz?”.

Ela respondeu: 

- “Macia desse jeito, a vir falar comigo, só pode ser Deus”.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

Ballone GJ, Moura EC - Alucinação e Delírio - in. PsiqWeb, Internet - disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2008, acesso em 11/04/2013 – 13:35h.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Jamil, boa tarde!

    Meu nome é Luiz Fernando Ramos, e, sou estudante de Engenharia Elétrica, da Unimar também. Coincidentemente vi sobre você e seu artigo no site da Universidade. Embora eu curse Exatas, me interesso muito pelo SER humano, leio bastante, na busca de entendê-lo e de tentar ser um ser humano melhor. Isso também me intriga.
    PARABÉNS PELO TRABALHO!

    Dando uma lida, gostaria de refletir e entender melhor através do seu conhecimento. Quando você diz: "Normalmente, a Alucinação auditiva é recebida pelo paciente com muita ansiedade e contrariedade, pois, na maioria das vezes, o conteúdo de tais vozes é desabonador, acusatório, infame e caluniador. "

    Isso significa que de acordo a pesquisas ou referências, na maioria das vezes as vozes usam palavras com significados negativos, correto? No presente caso, foi relatado pelo paciente que as vozes que ela ouve são de um "tom" positivo, doce, calmo...

    Com isso, quais conclusões podemos tirar? Neste caso, a alucinação se apresenta de uma forma "positiva"? Ou a interditada talvez tenha alguma condição para "tomar as rédeas" da própria vida? Ou muitas vezes o interditado é prejudicado pelo "cuidador" que não consegue interpretar de forma cautelosa e correta o interditado?

    De qualquer forma, muito obrigado pelo conhecimento compartilhado!

    OBS: me desculpe pelos erros de portguês

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