É certo que aguardo com muita expectativa as aulas que temos nas
quartas-feiras. É a ministrada pelo professor Belon cuja disciplina é
Psicopatologia. Um primor. Ouvi-lo a discorrer
sobre os meandros da mente é interessantíssimo. Existem muitos volteios, vias
sinuosas, emaranhados e porque não, muita complexidade para se entender, um
pouco, do que realmente é o agir, a atividade motora, após um intrincado comando
do pensamento. É apaixonante; e, ao mesmo tempo, intrigante.
Nas últimas aulas,
temos ouvido falar em sensopercepção, delírios, alucinações, ilusões e outras alterações
que o pensamento nos prega, quando a eles estamos suscetíveis. São as chamadas
doenças sindrômicas, objeto de nossos estudos.
Segundo Balone (2008) O fenômeno de perceber uma voz que não existe
(percepção de objeto inexistente) é a Alucinação propriamente dita e,
interpretá-la como sendo a voz do demônio, de Deus, dos espíritos mortos ou uma
audição telepática já faz parte do DELÍRIO. Este, frequentemente, acompanha a Alucinação.
Ouvir vozes faz parte da sensopercepção e atribuir a elas algum significado faz
parte do pensamento e seus, distúrbios.
Algumas vezes as vozes alucinadas podem determinar ordens ao paciente, o
qual as obedece, mesmo contra sua vontade. Diante desta situação, de obediência
compulsória às ordens ditadas por vozes alucinadas, é chamado de automatismo
mental. Esta situação oferece alguma
periculosidade, já que, quase sempre, as ordens proferidas são eticamente
condenáveis ou socialmente desaconselháveis.
Normalmente, a Alucinação auditiva é recebida pelo paciente
com muita ansiedade e contrariedade, pois, na maioria das vezes, o conteúdo de
tais vozes é desabonador, acusatório, infame e caluniador. Quando elas ditam
antecipadamente as atitudes do paciente falamos em SONORIZAÇÃO DO
PENSAMENTO, como se ele pensasse em voz alta ou como se alguma voz estivesse permanentemente
comentando todos seus atos: “lá vai ele lavar as mãos", "lá vai ele
ligar a televisão" e assim por diante.
Como parte de nossa atividade curricular de Observação e Registro,
faço-a observando um psiquiatra, nas dependências do fórum da comarca de
Marília, onde ocorrem as perícias forenses. Entre elas, exames criminológicos,
dependência toxicológica, interdição, exames psiquiátricos, entre outros.
No mês de abril de 2.013,
procedia ele o exame psiquiátrico de uma interditada, para fins de curatela,
requerido por sua irmã. As duas estavam presentes.
É
praxe, quando a pessoa examinada não tem o completo discernimento de seus atos,
a pergunta a ela dirigida ser respondida por quem a acompanha. No caso, a irmã respondia a todas já que a
interditada apresentava dificuldades de aprendizado, idade mental inferior à
sua biológica e visível retardo mental leve (CID 10 – F70). Queixou-se que a
interditada era nervosa, de difícil trato, que não tinha paciência com as suas
filhas, de comportamento irascível e etc.
A interditada, o tempo todo, sorria e
mostrava extremo carinho pelo sobrinho de tenra idade que estava no colo da
mãe, sua irmã. Seu relacionamento social, ali, era satisfatório.
Quando o psiquiatra perguntou-lhe se
via coisas e ouvia vozes, a irmã, prontamente, respondeu que não. Ela, sempre
sorrindo,contrariando a irmã, respondeu:
- “Coisas eu não vejo; mas, vozes, eu ouço. Sempre.”.
- “Coisas eu não vejo; mas, vozes, eu ouço. Sempre.”.
O psiquiatra perguntou-lhe que voz
ouvia. Ela respondeu que era uma voz meiga e muito suave.
Ele perguntou-lhe:
- “De quem você acha que é essa voz?”.
Ela respondeu:
- “Macia desse jeito, a vir falar comigo, só pode ser Deus”.
- “Macia desse jeito, a vir falar comigo, só pode ser Deus”.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
Ballone GJ, Moura EC - Alucinação e Delírio - in. PsiqWeb, Internet - disponível
em www.psiqweb.med.br, revisto em 2008, acesso em 11/04/2013 – 13:35h.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirJamil, boa tarde!
ResponderExcluirMeu nome é Luiz Fernando Ramos, e, sou estudante de Engenharia Elétrica, da Unimar também. Coincidentemente vi sobre você e seu artigo no site da Universidade. Embora eu curse Exatas, me interesso muito pelo SER humano, leio bastante, na busca de entendê-lo e de tentar ser um ser humano melhor. Isso também me intriga.
PARABÉNS PELO TRABALHO!
Dando uma lida, gostaria de refletir e entender melhor através do seu conhecimento. Quando você diz: "Normalmente, a Alucinação auditiva é recebida pelo paciente com muita ansiedade e contrariedade, pois, na maioria das vezes, o conteúdo de tais vozes é desabonador, acusatório, infame e caluniador. "
Isso significa que de acordo a pesquisas ou referências, na maioria das vezes as vozes usam palavras com significados negativos, correto? No presente caso, foi relatado pelo paciente que as vozes que ela ouve são de um "tom" positivo, doce, calmo...
Com isso, quais conclusões podemos tirar? Neste caso, a alucinação se apresenta de uma forma "positiva"? Ou a interditada talvez tenha alguma condição para "tomar as rédeas" da própria vida? Ou muitas vezes o interditado é prejudicado pelo "cuidador" que não consegue interpretar de forma cautelosa e correta o interditado?
De qualquer forma, muito obrigado pelo conhecimento compartilhado!
OBS: me desculpe pelos erros de portguês