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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O DIVÃ VIRTUAL


D I V Ã     V I R T U A L

                        Uma em cada três crianças tem presença virtual.
                        É moda, agora, os pais postarem nas redes sociais a ultrassonografia dos filhos mesmo antes deles nascerem.
Nove entre dez, antes de completarem dois anos, já possuem algum tipo de armazenamento de dados na internet.
Por dia, estima-se que se produzam três exabytes de informações que circulem pelo globo terrestre.
Big Data é o nome que s dá a essa enorme fonte de informação digital.
Dessa informação já é possível identificar e traçar perfis psicológicos das pessoas plugadas virtualmente.
Já há em uso softwares capazes de substituir até mesmo psicólogos na tarefa de manter e mesmo estudar o perfil de funcionários de uma empresa.
O Google há muito usa essa ferramenta no levantamento de dados, com foco em seu público alvo, quanto aos interesses em seus produtos.
É vapt vupt. Em questão de segundos, realiza-se busca em três milhões de computadores.
Para o psicólogo Welle (2013) “para coordenar pessoas, é mais confiável guiar-se por dados do que pela intuição, que é cheia de preconceitos”.
Muitas empresas do segmento de informática usam computadores, em vez de psicólogos, para gerenciar a trajetória profissional. O Google gerencia os seus mais de trinta mil funcionários dessa forma.
 No recrutamento, são os softwares que selecionam os currículos e os perfis antes das entrevistas.
No Brasil. O grupo Votorantim é o pioneiro na aplicação do Big Data em seu recrutamento. Diante disso, uma empresa a ele ligada, desenvolveu um algoritmo capaz de traçar em redes sociais, o perfil de candidatos, o que tornou muito mais rápido o processo de contratação.
Em consequência, está havendo uma inversão. Os candidatos enviavam currículos para o preenchimento de vagas. Agora, os softwares é que detectam os profissionais, ainda que empregados, que não mandaram currículo para a vaga disposta. As empresas buscam profissionais, não desempregados, oferecendo-lhes um melhor salário.
 Com isso, o Big Data, com o seu garimpo, tem se mostrado um excelente recurso na busca da boa mão de obra, entre os três exabytes, produzidos por três bilhões de pessoas.
                        Já existem em alguns países diversos softwares em operação para recrutamento de profissionais em diversos segmentos da sociedade, bem como outros para a avaliação de perfis.
                        Esse universo virtual abriu portas para que se saiba tudo sobre todos.
                        A Dilma que o diga.
                        Não há dúvidas que estamos diante de uma grande revolução de costumes na humanidade.
Encontra-se de tudo nas redes sociais. Ofertas de serviços, datas comemorativas, sucessos e insucessos pessoais, humores, comportamentos, pensamentos, emoções e etc.
                        Há pesquisas conclusivas que indicam que as pessoas costumam ser mais sinceras no ambiente virtual do que seriam no tête-à-tête.  
                        Aproveitando todo esse avanço tecnológico e fazendo a junção com o modelo psicoterápico de Aaron Beck, pode-se ter uma ferramenta útil para diagnosticar, nas redes sociais, os pensamentos, emoções e comportamentos de seus usuários.
Aaron Beck é mundialmente conhecido por suas pesquisas em psicoterapia, psicopatologia, suicídio e psicometria, que levou à criação da Terapia Cognitiva.
Entre os fatores protetivos, por ele declinados, temos a flexibilidade cognitiva, apoio social, ausência de fatores precipitantes, tratamento do transtorno e apoio social.
Porque não, através das redes sociais?
Uma forma de prevenção (o que é pouco usual) seria o estudo do comportamento dos indivíduos, através das suas manifestações de pensamentos automáticos (postagem), que, por sua vez, são gerenciados por suas crenças.
Não é difícil identificar nas redes os elementos cognitivos dos indivíduos, através de simples pesquisa e, depois, preparar planos de tratamentos psicoterápicos.
Os dados estão aí, disponibilizados pelos “pacientes virtuais”. Basta interpretá-los.
O modelo psicoterápico de Beck foi criado em 1.960. De lá, pra cá, muito água rolou sob a ponte.
Ele mesmo, na apresentação de sua obra, fala da “tremenda quantidade de novas pesquisas existentes”.
Seu modelo cognitivo propõe que o pensamento disfuncional (que influencia o humor e o pensamento do paciente) é comum a todos os transtornos psicológicos. Quando as pessoas aprendem a avaliar seu pensamento de forma mais realista e adaptativa, elas obtêm uma melhora em seu estado emocional e no seu comportamento.
Na prática, se sabe que os pacientes no divã, ocasionalmente, relatam duas vertentes de pensamento: uma de livre associação e outra de pensamentos rápidos de qualificações sobre si mesmo que estão intimamente ligados às suas emoções.
É sobre o aproveitamento dessa qualificação, que ocorre em abundancia nas redes sociais, a que me refiro.
Beck enfatiza que a terapia deve se adequar a cada indivíduo e que existem determinados princípios que estão presentes para todos eles.
Por exemplo, manifestar tristeza ao dizer que é um fracasso, através de um comportamento (que vai abandonar os estudos).
Essa teoria enfatiza inicialmente o presente (quer presente mais atual que as postagens colocadas instantaneamente nas redes?), além de ser estruturada. Ela usa uma variedade de técnicas para mudar o pensamento, o humor e o comportamento.
                        No divã virtual não seria necessário (então, suprimível) o questionamento socrático já que o que se descobre (inverso do guiado) é espontâneo. Basta se ler as abundantes postagens.
                        O que as pessoas pensam (cognição), fazem (comportamento) e como se sentem (afeto), são ditos espontaneamente, sem a necessidade de uma entrevista física.
                        Como é cediço, o comportamento humano é gerenciado por um sistema de crenças e pensamentos automáticos. A personalidade humana é, na verdade, um conjunto de crenças (centrais) específicas a cada contexto ambiental (externo) ao contexto interno (cognitivo).
Existem quatro afirmativas que norteiam tanto a teoria como o método terapêutico de Beck: Os indivíduos constroem ativamente sua realidade; a cognição medeia o afeto e o comportamento; a cognição é possível de ser conhecida e acessada; a  reestruturação cognitiva é componente central no processo psicoterápico para modificação do comportamento;
Assim, através do “Divã Virtual”, pode-se interpretar o que uma pessoa pensa de uma determinada situação, quando ela expõe suas emoções, afetos e comportamentos nas redes sociais.
Ao ativar essas crenças, o indivíduo gera um pensamento automático, sejam eles positivos ou negativos, que acabam por interferir em seu comportamento.
Na Terapia Cognitiva há um modelo diretivo em que as sessões são previamente determinadas.
Isto, no modelo tradicional criado por Becker. Nele há uma orientação para que se estabeleça uma agenda para a sessão tradicional. - Terapeuta X Paciente -. Nela, entre outras, recomenda-se verificar como se encontra o humor do paciente, informá-lo (educá-lo) como funciona a terapia e detalhar-lhe (enquadramento) sobre o atendimento.
Um dos temas recorrentes de Aaron Beck é o suicídio que é um comportamento autodestrutivo. Ele elencou alguns fatores protetivos, para essas pessoas, que deve ser posto em prática, em diversos segmentos da sociedade. No divã virtual, encontram-se todos eles.
Através da educação e informação é possível promover a conscientização sobre o problema, envolvendo, educadores, estudantes, família e, quiçá, os usuários das redes sociais.
No caso de suicidas, há a leitura dos sintomas que podem identificar os prováveis comportamentos. São eles ( os 4 D’s): Depressão, Desesperança, Desamparo e Desespero.
Nessa linha de raciocínio, se atentarmos para essa gama de informações, que é postada segundo a segundo nas redes sociais, estaremos diante de uma mina de ouro para nossas pesquisas sobre o comportamento humano. Basta lê-las e interpretá-las.
Aliados ao Big Data e de posse de um software desenvolvido para esse fim, não será difícil identificar, pela análise das mensagens, a variação do humor dos usuários das redes.
Basta que se de ao programa as palavras chaves desejadas, tais como; “humor”, “alegria”, “tristeza”, para que ele trace o perfil desejado.
Assim, se alguém digitar:
“Estou chateado porque a Faef cortou minha bolsa de estudos”; ou, “Que decepção pelo STF dar novo julgamento aos mensaleiros”; ou, “Fiquei muito triste com a morte do Airton Senna”, estas frases se encaixam no título de tristeza.
Por outro lado se você ler a frase:
“Ebaaa, meu timão goleou o Palmeira”; ou, “Enfim, férias”, essas frases serão computadas em alegria.
Algumas frases também podem identificar possíveis suicidas: “Eu prefiro a morte”; “Eu não posso fazer nada”; “Eu sou um peso morto”; “Eu não vou fazer falta mesmo”.
Com certeza, nas recentes manifestações de rua que eclodiram por todo o país, predominaria entre nós o sentimento de raiva devido ao descaso dos governantes com verbas públicas usadas na construção de estádios, padrão Fifa, em detrimento da saúde e educação.
Esta técnica, com certeza, pode vir a ser uma ótima ferramenta de trabalho para os profissionais da saúde, especialmente os da saúde mental, que lidam, cada vez mais, com uma demanda de alto risco.
Pode também ser uma  ótimo avaliador da autoestima das pessoas.


REFERÊNCIAS:
BECK, J. Terapia Cognitivo-Comportamental. Artmed. 2013 – São Paulo. SP.
KNAPP. P. Fundamentos, Modelos conceituais, aplicações e pesquisa da terapia cognitiva. Revista Brasileira de Psiquiatria. 2008.
Revista Psique. Dossiê: Suicídio. Edição n.º 92, Editora Escala. 2013. SP.
Revista Veja. Achados na Multidão Virtual. p.101/103. Edição 2040. 2013. Editora Abril. SP.


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