D
I V Ã V I R T U A L
Uma em cada três crianças tem presença
virtual.
É moda, agora, os pais postarem nas redes
sociais a ultrassonografia dos filhos mesmo antes deles nascerem.
Nove
entre dez, antes de completarem dois anos, já possuem algum tipo de
armazenamento de dados na internet.
Por
dia, estima-se que se produzam três exabytes de informações que circulem pelo
globo terrestre.
Big
Data é o nome que s dá a essa enorme fonte de informação digital.
Dessa
informação já é possível identificar e traçar perfis psicológicos das pessoas
plugadas virtualmente.
Já
há em uso softwares capazes de substituir até mesmo psicólogos na tarefa de
manter e mesmo estudar o perfil de funcionários de uma empresa.
O
Google há muito usa essa ferramenta no levantamento de dados, com foco em seu
público alvo, quanto aos interesses em seus produtos.
É
vapt vupt. Em questão de segundos, realiza-se busca em três milhões de
computadores.
Para
o psicólogo Welle (2013) “para coordenar
pessoas, é mais confiável guiar-se por dados do que pela intuição, que é cheia
de preconceitos”.
Muitas
empresas do segmento de informática usam computadores, em vez de psicólogos,
para gerenciar a trajetória profissional. O Google gerencia os seus mais de
trinta mil funcionários dessa forma.
No recrutamento, são os softwares que
selecionam os currículos e os perfis antes das entrevistas.
No
Brasil. O grupo Votorantim é o pioneiro na aplicação do Big Data em seu
recrutamento. Diante disso, uma empresa a ele ligada, desenvolveu um algoritmo
capaz de traçar em redes sociais, o perfil de candidatos, o que tornou muito
mais rápido o processo de contratação.
Em
consequência, está havendo uma inversão. Os candidatos enviavam currículos para
o preenchimento de vagas. Agora, os softwares é que detectam os profissionais,
ainda que empregados, que não mandaram currículo para a vaga disposta. As
empresas buscam profissionais, não desempregados, oferecendo-lhes um melhor
salário.
Com isso, o Big Data, com o seu garimpo, tem se
mostrado um excelente recurso na busca da boa mão de obra, entre os três
exabytes, produzidos por três bilhões de pessoas.
Já existem em alguns países diversos softwares
em operação para recrutamento de profissionais em diversos segmentos da
sociedade, bem como outros para a avaliação de perfis.
Esse universo virtual abriu portas para que
se saiba tudo sobre todos.
A Dilma que o diga.
Não há dúvidas que estamos diante de uma
grande revolução de costumes na humanidade.
Encontra-se
de tudo nas redes sociais. Ofertas de serviços, datas comemorativas, sucessos e
insucessos pessoais, humores, comportamentos, pensamentos, emoções e etc.
Há pesquisas conclusivas que indicam que as
pessoas costumam ser mais sinceras no ambiente virtual do que seriam no tête-à-tête.
Aproveitando todo esse avanço tecnológico e
fazendo a junção com o modelo psicoterápico de Aaron Beck, pode-se ter uma
ferramenta útil para diagnosticar, nas redes sociais, os pensamentos, emoções e
comportamentos de seus usuários.
Aaron
Beck é mundialmente conhecido por suas pesquisas em psicoterapia,
psicopatologia, suicídio e psicometria, que levou à criação da Terapia
Cognitiva.
Entre
os fatores protetivos, por ele declinados, temos a flexibilidade cognitiva,
apoio social, ausência de fatores precipitantes, tratamento do transtorno e
apoio social.
Porque
não, através das redes sociais?
Uma
forma de prevenção (o que é pouco usual) seria o estudo do comportamento dos
indivíduos, através das suas manifestações de pensamentos automáticos
(postagem), que, por sua vez, são gerenciados por suas crenças.
Não
é difícil identificar nas redes os elementos cognitivos dos indivíduos, através
de simples pesquisa e, depois, preparar planos de tratamentos psicoterápicos.
Os
dados estão aí, disponibilizados pelos “pacientes virtuais”. Basta
interpretá-los.
O
modelo psicoterápico de Beck foi criado em 1.960. De lá, pra cá, muito água
rolou sob a ponte.
Ele
mesmo, na apresentação de sua obra, fala da
“tremenda quantidade de novas pesquisas existentes”.
Seu
modelo cognitivo propõe que o pensamento disfuncional (que influencia o humor e
o pensamento do paciente) é comum a todos os transtornos psicológicos. Quando
as pessoas aprendem a avaliar seu pensamento de forma mais realista e
adaptativa, elas obtêm uma melhora em seu estado emocional e no seu
comportamento.
Na
prática, se sabe que os pacientes no divã, ocasionalmente, relatam duas
vertentes de pensamento: uma de livre associação e outra de pensamentos rápidos
de qualificações sobre si mesmo que estão intimamente ligados às suas emoções.
É
sobre o aproveitamento dessa qualificação, que ocorre em abundancia nas redes
sociais, a que me refiro.
Beck
enfatiza que a terapia deve se adequar a cada indivíduo e que existem
determinados princípios que estão presentes para todos eles.
Por
exemplo, manifestar tristeza ao dizer que é um fracasso, através de um
comportamento (que vai abandonar os estudos).
Essa
teoria enfatiza inicialmente o presente (quer presente mais atual que as
postagens colocadas instantaneamente nas redes?), além de ser estruturada. Ela
usa uma variedade de técnicas para mudar o pensamento, o humor e o
comportamento.
No divã virtual não seria necessário (então,
suprimível) o questionamento socrático já que o que se descobre (inverso do guiado)
é espontâneo. Basta se ler as abundantes postagens.
O
que as pessoas pensam (cognição), fazem (comportamento) e como se sentem
(afeto), são ditos espontaneamente, sem a necessidade de uma entrevista física.
Como é cediço, o comportamento humano é
gerenciado por um sistema de crenças e pensamentos automáticos. A personalidade
humana é, na verdade, um conjunto de crenças (centrais) específicas a cada contexto
ambiental (externo) ao contexto interno (cognitivo).
Existem
quatro afirmativas que norteiam tanto a teoria como o método terapêutico de
Beck: Os indivíduos constroem ativamente sua realidade; a cognição medeia o
afeto e o comportamento; a cognição é possível de ser conhecida e acessada; a reestruturação cognitiva é componente central
no processo psicoterápico para modificação do comportamento;
Assim,
através do “Divã Virtual”, pode-se interpretar o que uma pessoa pensa de uma
determinada situação, quando ela expõe suas emoções, afetos e comportamentos
nas redes sociais.
Ao
ativar essas crenças, o indivíduo gera um pensamento automático, sejam eles
positivos ou negativos, que acabam por interferir em seu comportamento.
Na
Terapia Cognitiva há um modelo diretivo em que as sessões são previamente
determinadas.
Isto,
no modelo tradicional criado por Becker. Nele há uma orientação para que se
estabeleça uma agenda para a sessão tradicional. - Terapeuta X Paciente -.
Nela, entre outras, recomenda-se verificar como se encontra o humor do
paciente, informá-lo (educá-lo) como funciona a terapia e detalhar-lhe
(enquadramento) sobre o atendimento.
Um
dos temas recorrentes de Aaron Beck é o suicídio que é um comportamento
autodestrutivo. Ele elencou alguns fatores protetivos, para essas pessoas, que
deve ser posto em prática, em diversos segmentos da sociedade. No divã virtual,
encontram-se todos eles.
Através
da educação e informação é possível promover a conscientização sobre o
problema, envolvendo, educadores, estudantes, família e, quiçá, os usuários das
redes sociais.
No
caso de suicidas, há a leitura dos sintomas que podem identificar os prováveis
comportamentos. São eles ( os 4 D’s): Depressão, Desesperança, Desamparo e
Desespero.
Nessa
linha de raciocínio, se atentarmos para essa gama de informações, que é postada
segundo a segundo nas redes sociais, estaremos diante de uma mina de ouro para
nossas pesquisas sobre o comportamento humano. Basta lê-las e interpretá-las.
Aliados
ao Big Data e de posse de um software desenvolvido para esse fim, não será
difícil identificar, pela análise das mensagens, a variação do humor dos
usuários das redes.
Basta
que se de ao programa as palavras chaves desejadas, tais como; “humor”,
“alegria”, “tristeza”, para que ele trace o perfil desejado.
Assim,
se alguém digitar:
“Estou
chateado porque a Faef cortou minha bolsa de estudos”; ou, “Que decepção pelo
STF dar novo julgamento aos mensaleiros”; ou, “Fiquei muito triste com a morte
do Airton Senna”, estas frases se encaixam no título de tristeza.
Por
outro lado se você ler a frase:
“Ebaaa,
meu timão goleou o Palmeira”; ou, “Enfim, férias”, essas frases serão
computadas em alegria.
Algumas
frases também podem identificar possíveis suicidas: “Eu prefiro a morte”; “Eu
não posso fazer nada”; “Eu sou um peso morto”; “Eu não vou fazer falta mesmo”.
Com
certeza, nas recentes manifestações de rua que eclodiram por todo o país,
predominaria entre nós o sentimento de raiva devido ao descaso dos governantes
com verbas públicas usadas na construção de estádios, padrão Fifa, em
detrimento da saúde e educação.
Esta
técnica, com certeza, pode vir a ser uma ótima ferramenta de trabalho para os
profissionais da saúde, especialmente os da saúde mental, que lidam, cada vez
mais, com uma demanda de alto risco.
Pode
também ser uma ótimo avaliador da
autoestima das pessoas.
REFERÊNCIAS:
BECK, J. Terapia
Cognitivo-Comportamental. Artmed. 2013 – São Paulo. SP.
KNAPP. P. Fundamentos,
Modelos conceituais, aplicações e pesquisa da terapia cognitiva. Revista
Brasileira de Psiquiatria. 2008.
Revista Psique. Dossiê:
Suicídio. Edição n.º 92, Editora Escala. 2013. SP.
Revista Veja. Achados
na Multidão Virtual. p.101/103. Edição 2040. 2013. Editora Abril. SP.